domingo, 16 de janeiro de 2011

Glaciais de El Calafate - Perito Moreno, Viedma e Upsala.

"Diário de Bordo": "Casal Aventura" perde o fôlego com Glacial Upsala

da Folha Online

Depois de conhecer os encantos da charmosa cidade de El Calafate, o casal Flávio Prado e Maira Hora perde o fôlego com Glacial Upsala (confira a galeria de imagens). Eles enfrentam de novo toda a burocracia das alfândegas. A solução é encará-la com humor. O relato faz parte da Expedição Cone Sul. Os dois vão conhecer as paisagens mais deslumbrantes da região, contando tudo para a Folha Online. A viagem começou em São Paulo e prevê passagens por cidades do sul do país, Argentina e Chile.
Confira o relato do vigésimo nono dia (29 de março) desta aventura, contada por Maira.
Glaciais
Acordamos muito cedo, tomamos café da manhã, preparamos nossas mochilas, lanches, notebook cedido pela Lenovo, celular Tim, câmera fotográfica, tudo para desfrutarmos bem cada segundo de nossas novas e emocionantes aventuras. Estrada linda, com o nascer do sol nos preparando para um dos dias mais incríveis da nossa vida.
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Paisagem de tirar o fôlego: bandeira da Argentina com Glacial Perito Moreno ao fundo
Paisagem de tirar o fôlego: bandeira da Argentina com Glacial Perito Moreno ao fundo
Visitaremos glaciares formados pelos maiores campos de gelos continentais do mundo. O gelo que está no cume da cordilheira dos Andes, quando neva demais, vai descendo até cheguar na desembocadura dos glaciais. Este gelo é responsável pela alimentação dos glaciares de Upsala, Agassiz, Bolado, Spegazzini, Mayo, Negro, Ameghino e Perito Moreno.
Todos os glaciares nascem destes campos de gelo. Upsala, o maior deles, está derretendo a cada ano por causa do aquecimento global. Ele sempre avança, porém, derrete mais do que avança --aumentando o nível do Lago Argentino.
São 8h30 da manhã e acabamos de embarcar em um catamarã da empresa Fernandez Campbell rumo ao maior de todos os glaciares, Glacial Upsala, pela zona norte do canal do Lago Argentino. Saindo do Porto de la Cruz, em Punta Bandera, passando pela Boca Del Diablo, acesso ao Braço Norte --com 800 metros de largura e 100 metros de profundidade, no Canal de La Olla.
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Catamarãs atracados na baía Onelli, no Parque Nacional Los Glaciares
Catamarãs atracados na baía Onelli, no Parque Nacional Los Glaciares
Seguindo pela baía Cristina, ficamos chocados: ali podemos ver um pedaço do glacial e, logo entrando no Brazo Upsala, a comoção é geral. O catamarã inteiro enlouquece com o tamanho do glacial. As pessoas andam de um lado para o outro, tiram fotos, filmam, não se importando com o frio que faz lá fora e muito menos com a garoa cortante. Todo mundo fala ao mesmo tempo. A visão é realmente chocante: são blocos imensos, não brancos, mas azuis. É uma loucura. Vez ou outra, entre o branco azulado, você pode ver o que os argentinos chamam de "morenas" --pequenos sedimentos que vêm sendo carregados pelo vento e pela descida da neve e acabam se alojando em determinados pontos do glacial, ficando muito visíveis como pequenos veios cinzas, ou pretos, cortando o azulado.
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Blocos de gelo flutuando no lago Argentino
Blocos de gelo flutuando no lago Argentino
Foi aí que conhecemos dois brasileiros de Curitiba, amigos que sempre viajam juntos: Mizael Flávio Araújo e Luiz Fernando Brandão. Os dois são gerentes da Caixa Econômica e leitores da Folha Online. Mizael e Luiz Fernando encontraram uma forma barata e divertida de viajar: sempre juntos, ou com a família --assim, negociam melhor com as companhias de viagens, afinal, um grupo sempre é mais barato que apenas uma pessoa. Eles fazem todo o pacote turístico: avião, hospedagem, passeios e translados. Já viajaram por diversas partes do mundo --como Canadá, Estados Unidos e Chile. Depois de El Calafate vão descer até Ushuaia e, desta vez, tentarão chegar ao cabo de Hornos. Boa sorte aos brasileiros simpáticos.
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Flávio e Maira com o Glacial Upsala ao fundo
Flávio e Maira com o Glacial Upsala ao fundo
Como sempre digo, quando ouço um brasileiro falar, até me emociono e, é claro, não agüento e vou logo conversar e trocar experiência. Afinal, o melhor da viagem é isso: conhecer gente diferente e lugares lindos. Eles nunca serão esquecidos.
No Brazo Upsala nós atracamos no Puerto Las Vacas e atravessamos o bosque até o lago Onelli. No lago, há pequenos pedaços de gelo flutuando. É no meio desta paisagem idílica que faremos o nosso piquenique.
O frio é bastante intenso, portanto, nem pense em fazer este passeio sem uma roupa adequada porque, se você estiver desabrigado, não poderá descer do catamarã e vai perder todo o visual do bosque. Leve luvas, gorro, casaco e calças impermeáveis. Só para deixar bem claro como isso é necessário, durante todo o piquenique choveu e, em nenhum momento, ficamos desconfortáveis, pois estávamos com as roupas certas. Mas o lugar é lindo. Mesmo com o frio intenso e a chuva, ele deve ser visitado. Em nosso catamarã, tínhamos gente do Brasil, Estados Unidos, França, Alemanha, Japão, Espanha, Israel e Portugal. A equipe do catamarã era composta por Leonel, Marcelo, Pablo, Nicolles, Javier e Ramiro, que foram muito atenciosos com todos e traduziam tudo para diversos turistas.
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Brasileiros Mizael e Luiz Fernando, de Curitiba, com Maira em frente do Glacial Upsala
Brasileiros Mizael e Luiz Fernando, de Curitiba, com Maira em frente do Glacial Upsala
Após o piquenique, andamos um pouco à beira do lago, brincamos com os pedaços de gelo e, é claro, alguns tomaram uísque com gelo --o que eu, particularmente, acho péssimo, pois o gelo de um glacial demora alguns milhares de anos para se formar e descer até os lagos. Um turista vai até lá, tira o gelo (de 15 milhões de anos) e bebe! É um pedacinho ínfimo comparado com quilômetros de gelo, mas devemos pensar que não é apenas um turista que faz isso. O gelo tem de derreter e ficar na natureza, no lago, e não no corpo de alguém por puro capricho.
Embarcamos novamente, entramos no Brazo Spegazzini e pudemos observar o Glacial Seco. "Seco" porque este glacial desemboca em solo, e não em água. É incrível porque é como um rio congelado que vem descendo a montanha e de repente pára, sem desaguar no rio. Você sabe que é água congelada, afinal, trata-se de gelo, mas o cérebro, quando vê aquele monte de gelo vindo do "nada", não faz a relação. Só quando você vê o glacial seco é que você realmente entende todo o processo. Lembre-se que as proporções aqui são gigantescas.
O catamarã sai do Brazo Spegazzini. Começamos a nos despedir dos imensos blocos flutuantes de gelo da Barreira de Témpanos. O frio do lado de fora da embarcação é cortante, mas diversas pessoas não resistem às paisagens maravilhosas e ficam lá fora, catatônicas, sem falar uma só palavra. Assim é o nosso retorno pelo Brazo Norte. Quando entro para me sentar, percebo que, do lado de dentro, o mesmo se passa: as pessoas estão quietas, totalmente consumidas pela adrenalina da ansiedade do início da viagem.




Atracamos no Puerto Punta Bandera por volta das 16h30 e pegamos o nosso carro rumo ao Parque Nacional Los Glaciares. Você volta pela mesma estrada da ida, mas na bifurcação da RP11 toma a sua direita e segue para o parque em direção ao Glacial Perito Moreno, a 40 km de Puerto Banderas. Entramos no parque e na cabine de acesso. Logo você recebe um mapa. Apresente o seu bilhete de ingresso --lembram-se da dica do Jerónimo? "Guardem bem o bilhete." Assim, em um único dia, é possível fazer o Glacial Upsala e Perito Moreno. Contornamos o Brazo Rico e, não sei dizer por que, mas só conseguimos ouvir [o grupo musical] Metallica. O visual é estonteante e, com a música, fica melhor ainda.
Cuidado, porque o trecho da serrinha dentro do parque está sendo asfaltado. Dirija devagar porque tem muita gente trabalhando na estrada e, além do mais, a estrada é bem estreita.
Chegamos ao estacionamento que dá acesso às passarelas de Perito Moreno. Descemos do carro (meio sem saber o que nos esperava), afinal, já tínhamos visto o maior de todos os Glaciares (o Upsala). O quê poderia ser mais impactante que isto?
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Paisagem com glacial seco no caminho para o glacial Upsala, em El Calafate
Paisagem com glacial seco no caminho para o glacial Upsala, em El Calafate
Começamos a descer as passarelas quando, em meio ao bosque, se abre uma fenda com uma bandeira da Argentina e, ao fundo, o descomunal Glacial Perito Moreno. Chocante. Quase caímos de costas. De longe, podemos ver claramente as "morenas", marcas escuras dos sedimentos cruzando todo o glacial. O frio é muito intenso e o barulho que o glacial faz é impressionante. Imaginem um bloco de gelo de 195 km2 estalando --como se anunciasse seu rompimento em algum micro pedaço de 20 ou 30 metros de altura. Tudo é gigantesco!
(Os números exatos de Perito Moreno são: 4 km de largura, 30 km de comprimento e 195 km2. Outro dado importante: temos como superfície de gelo 13,5 milhões km2 pertencentes à Antártida, 1,750 milhão km2 à Groenlândia e 22 mil km2 são placas de gelo continentais da Patagônia.




Ficamos uma hora observando e fotografando. Turistas iam e vinham a todo o momento, mas, como chovia, fazia muito frio e ventava demais, ninguém agüentou muito tempo. Como estávamos muito bem agasalhados, decidimos ficar até acabar toda a bateria da máquina e do celular, que, diga-se de passagem, trabalharam ferozmente hoje. Levamos o notebook, então pudemos ir descarregando as fotos. Uma dica: se você puder levar um notebook, leve, pois são muitas fotos --ou então leve cartão de memória.
Até fizemos um filme de Perito Moreno e, para nossa surpresa, um bloco de aproximadamente 50 metros de altura se desprende e cai. Nossa, o barulho é ensurdecedor!



Ele quebrou muito longe de nós e, mesmo assim, pudemos ouvir bem nítido e alto. Foi emocionante, mas fiquei pensando: o mundo inteiro vai lá para ver esta maravilha da natureza e, quando as pessoas chegam lá, ficam rezando para um pedaço cair.
O processo de ruptura deste glacial se produz quando ele avança sobre a península de Magalhães até formar um dique natural de gelo --que fecha o caminho das águas, desde o Brazo Rico até o Canal de los Témpanos. Isso faz com que aumente o nível de água, pressionando e desgastando a massa de gelo até produzir pequenas infiltrações e desprendimentos, que resultam em pequenos túneis pelos quais fluem novamente as águas para o Lago Argentino. Finalmente, este túnel é derrubado, formando o tão esperado espetáculo por que todos esperam ansiosos.



Voltamos para o hotel Fuerte Calafate ouvindo Metallica e totalmente emocionados com tudo o que vimos hoje. Já no hotel, descarregamos tudo ali mesmo na recepção e fomos logo mostrar o vídeo à Jerónimo e Federico. Os dois falaram que tivemos muita sorte porque, muitas vezes, as pessoas passam dias esperando para ver um desprendimento destes (de 50 metros) e nós vimos logo na primeira hora. Eu fiquei tão chocada que, na hora da filmagem, não consegui ficar quieta e, é claro, falei milhares de coisas, estasiada.
Ficamos alguns minutos conversando com Jerónimo e Federico que nos indicam uma outra cidade próxima --El Chalten e Fitz Roy--, depois fomos jantar e, mais uma vez, o chef Martín arrasa: com uma salada de atum e arroz com condimentos, prato principal Colita de quadril ao forno com purê de abóbora com creme de savora, pimenta em grãos e mel e tarantela de sobremesa. Tudo acompanhado de um ótimo vinho.
Maira e Flávio têm o apoio da Lenovo, da TIM Roaming Internacional e da Virtual Track.

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